A transgenitalização, também conhecida como cirurgia de redesignação sexual (CRS), é um conjunto de procedimentos médicos realizados com o objetivo de alterar os órgãos sexuais de uma pessoa para refletir sua identidade de gênero.
Para muitos indivíduos transgênero, esse processo é fundamental na busca por um alinhamento entre o corpo e a identidade de gênero, resultando em uma melhoria significativa na saúde mental, emocional e na qualidade de vida.
Essa jornada não é somente física, mas também psicológica e social. Para as pessoas transgênero, a transgenitalização pode ser vista como uma parte essencial da afirmação de sua identidade, permitindo que vivam de maneira mais congruente com quem são.
No post de hoje, vamos explorar o que é a transgenitalização, como funciona a cirurgia de redesignação sexual e quais são as considerações envolvidas nesse processo. Confira!
O que é transgenitalização?
Transgenitalização refere-se a um conjunto de cirurgias realizadas para alinhar a anatomia genital com a identidade de gênero de uma pessoa.
A cirurgia é um passo significativo na transição de gênero, mas não é necessária para todos os indivíduos transgênero.
A decisão de passar por essa cirurgia é altamente pessoal e deve ser tomada após uma avaliação detalhada do histórico médico, psicológico e das expectativas do paciente.
Durante o processo de transgenitalização, os médicos visam criar órgãos genitais que correspondam à identidade de gênero da pessoa.
Isso inclui a remoção de órgãos sexuais que não correspondem à identidade de gênero desejada e a construção de novos órgãos genitais.
Critérios para transgenitalização
Embora a vontade ou necessidade pessoal seja um fator importante, válido e decisivo para esse tipo de procedimento, existem alguns critérios, inclusive previstos por lei, para a sua realização.
É necessário passar por uma avaliação médica detalhada, que inclui um acompanhamento psiquiátrico de, no mínimo,um ano antes de se submeter à cirurgia.
Esse acompanhamento ajuda a garantir que a pessoa tenha a saúde mental e emocional necessária para lidar com os aspectos emocionais da transição.
Também é recomendado que os pacientes passem por um período de terapia hormonal (estrogênio ou testosterona).
Isso ajuda o indivíduo a alcançar algumas das características desejadas, como o crescimento de seios (no caso das mulheres trans) ou o crescimento de pelos faciais e corporais (para os homens trans), introduzindo o processo de reconhecimento pessoal com o gênero que se identifica.
Dentro disso, em muitas situações, a cirurgia é indicada após a pessoa ter vivido como seu gênero desejado por pelo menos um ano.
Tipos de cirurgias de redesignação sexual
Existem diversos tipos de cirurgia de redesignação sexual, e a escolha do procedimento depende do sexo de origem e do sexo desejado.
A Transgenitalização envolve duas abordagens principais: a masculinização e a feminização dos órgãos genitais.
Masculinização – mudança de feminino para masculino
No caso de pessoas trans masculinas, a cirurgia de masculinização visa criar uma aparência genital masculina.
O processo geralmente inclui a remoção dos órgãos sexuais femininos, como os ovários e o útero, e a criação de um pênis funcional.
Existem dois procedimentos principais usados para a construção do pênis:
Neofaloplastia
Procedimentos altamente complexos e feitos em vários estágios onde utilizamos retalhos de pele retirados do abdômen ou das costas para criar um pênis.
O primeiro estágio é a criação do falo propriamente dito, inclusive com retirada da vagina, criação do escroto e implante de próteses testiculares.
O segundo estágio é para a criação de uma glande e também para o alongamento da uretra.
O terceiro estágio é para a colocação de um implante peniano afim de propiciar o sexo penetrativo.
Metoidioplastia
Opção menos invasiva na qual realiza-se um alongamento cirúrgico de um clitóris que já se encontra aumentado devido ao uso de hormônios. Além disso também se remove a vagina, construímos um escroto e implantamos duas próteses testiculares.
Nesta opção, o tamanho do pênis é mais reduzida , mas o indivíduo é capaz de urinar em pé e ter um órgão sexual bastante semelhante a de um homem cis.
Histerectomia
Se a pessoa trans masculina também desejar remover o útero, este procedimento é realizado para garantir que não haja mais órgãos reprodutivos femininos no corpo.
Feminização – mudança de masculino para feminino
Para pessoas trans femininas, a cirurgia de feminização geralmente envolve a remoção dos órgãos sexuais masculinos, como o pênis e os testículos, e a criação de uma neovulva e de uma neovagina.
Independente da técnica, todas as pacientes terão um clitóris funcional, uma uretra curta fazendo com que a paciente seja capaz de urinar sentada além de grandes e pequenos lábios bastantes semelhantes a de uma mulher cis.
Para a confecção da Neovagina, existem diversas técnicas:
Técnica da inversão peniana
A pele do pênis e/ou do escroto é utilizada para criar uma neovagina. É a técnica mais realizada em todo mundo por ser um procedimento mais simples e, em mãos experientes, se é capaz de propiciar uma profundidade funcional.
Técnica do Sigmoide
É uma técnica na qual utilizamos um seguimento do intestino grosso, no caso o sigmoide, para revestir o canal vaginal.
É uma técnica mais invasiva, mas que propicia os canais com maior profundidade.
Geralmente utilizamos esta técnica para cirurgia secundárias ou seja naquelas as quais o canal vaginal ficou curto após a cirurgia primária.
Técnica do Jejuno
É uma técnica na qual utilizamos a mucosa do intestino delgado, mais precisamente do jejuno, para o revestimento do canal vaginal.
É mais invasiva que a técnica da inversão porém menos invasiva que a técnica do sigmoide, fornecendo excelentes resultados estéticos.
Técnica do Peritônio
Técnica na qual utilizamos a membrana peritoneal (membrana que reveste os órgãos abdominais) para aumentar a profundidade do canal neovaginal quando a opção da cirurgia primária é pela técnica da inversão do prepúcio.
É uma técnica pouco realizada no Brasil sendo uma opção para as pacientes que desejam uma técnica de inversão porém com a demanda de uma vagina mais profunda.
Recuperação e cuidados pós-operatórios
Após a cirurgia, o acompanhamento médico é fundamental para garantir que o corpo esteja cicatrizado adequadamente.
A recuperação envolve a utilização de dilatadores vaginais (para pacientes trans femininas) ou o uso de bombas de ereção (para pacientes trans masculinos) para ajudar na manutenção da função sexual e na prevenção de complicações.
O suporte psicológico durante a recuperação também é essencial, pois os pacientes podem enfrentar desafios emocionais durante o processo de adaptação à nova aparência física.
A importância da decisão e do suporte continuado
A transgenitalização não é uma escolha fácil e envolve uma série de fatores, como saúde física, emocional e financeira.
A cirurgia é uma parte da jornada de transição de gênero, mas é importante lembrar que cada pessoa transgênero tem sua própria experiência única e que a decisão de realizar a cirurgia deve ser feita com total autonomia e apoio de uma rede de profissionais de saúde qualificados.
O acompanhamento psicológico contínuo, a preparação física adequada e a busca por uma comunidade de apoio são componentes essenciais para garantir o sucesso da cirurgia e uma recuperação satisfatória.
A transgenitalização pode ser uma forma significativa de alcançar a congruência de gênero desejada, mas a verdadeira aceitação vem de dentro, com o apoio das pessoas ao redor e a aceitação da própria identidade. A jornada de uma pessoa transgênero é repleta de desafios, mas também de grandes vitórias.
Ao tomar a decisão de realizar a cirurgia de redesignação sexual, é essencial que o paciente tenha a certeza de que está fazendo isso para si, e não para atender às expectativas externas.
A transição é uma experiência profundamente pessoal, e o respeito à autonomia de cada pessoa é a chave para um processo saudável e satisfatório.